Visita ao Cemitério dos Navios em Angola
Talvez um dos pontos turísticos mais visitados de Luanda seja o cemitério dos navios, eu digo talvez porque não tenho dados, mas a atração consta no Trip Advisor e no guia da Lonely Planet da África, o que me leva a crer que se trata de um dos mais procurados, até porque realmente o local é único. Segundo consta no Google, o maior cemitério de navios do mundo.
O trânsito em Luanda é sempre complexo, muitos carros, nenhuma regra e sem sinalização, logo a aventura por si só já começa para chegar no local. A praia de Santiago, localizada na Província do Bengo, onde se encontra de fato os navios, fica a aproximadamente uma hora e meia de Luanda (cerca de 30Km) mas o que mais complica é o acesso depois que se saí da estrada para chegar na beira da praia. Pois não tem pavimentação alguma.
A praia de Santiago é um local deserto, pouco acessível, não tem estrada para chegar até a praia e sim rotas que os habitantes locais foram fazendo. Ao longo desse caminho se passa por diversas áreas de plantação de pequenos agricultores. Tudo é muito precário nessa região, então eles trabalham com o que tem. Caminhões, veículos maiores e máquinas que facilitam a vida no campo não são a realidade para esses pequenos produtores. Eles contam com no máximo uma pequena moto para carregar as coisas, mas a maioria mesmo faz seus trajetos a pé, carregando as coisas como pode. O que ajuda para o não desenvolvimento de uma trilha melhor na área, mesmo que não pavimentada.
A questão não é se perder de fato, pois ao longe você enxerga os navios e sabe que está costeando a beira da praia, mas é que devido a precariedade das trilhas você nunca sabe se aquela que pegou leva a algum lugar por duas vezes chegamos perto da beira da praia, mas então terminava o acesso e não tinha mais como prosseguir. Obviamente tínhamos também que tomar cuidado para não atolar o carro e ficarmos parados no meio do nada.
Finalmente chegamos e nos deparamos com aquele deserto, seco e quente. O dia estava muito bonito para nossa sorte, mas o que também elevava o calor e consequentemente a sensação de imensidão perdida. Minha primeira impressão foi um cenário de filme ao estilo Mad Max, o que acontecerá com a civilização quando nós terminarmos de destruir tudo, algo nessa linha. Isso porque além dos navios a praia tem infelizmente muito lixo acumulado, mas muito mesmo. Não consegui entender a origem desse lixo sinceramente, não tem comunidades próximas e não me pareceu que fosse lixo de todas as pessoas que visitaram o local porque é muito plástico e pedaços de isopor, etc. Uma das hipóteses que me ocorreu é que as marés possam estar trazendo esse lixo de alto mar.
Isolando o fato lixo a atmosfera e o local são o cenário perfeito para um filme de terror. Ninguém nas redondezas, nada perto, difícil acesso, sem sinal de celular e com aquele monte de navios aos pedaços. Eu contei cerca de 30 carcaças de navios, alguns muito velhos e outros bem novos, que certamente chegaram lá há menos de cinco anos atrás.
A internet ainda é carente de informações sobre locais de Angola, as buscam resultam em dados fracos e por muitas vezes de baixa credibilidade. Logo, não achei muita informação sobre os motivos pelos quais esses navios foram levados para lá. O que de mais concreto achei foi que no passado pós guerra civil de Angola a atividade pesqueira foi diminuindo e esses grandes navios ficaram atracados no porto de Luanda. Na sequência desses fatos as atividades de importação aumentaram fortemente e a demanda por espaço no porto também. Os navios precisavam ser removidos do Porto, a solução foi levá-los para a remota praia de Santiago, deserta, mas teoricamente perto de Luanda. Se afundassem os navios as companhias deixariam de receber os seguros. A veracidade, como disse anteriormente, não consegui comprovar.
É um local para ir, observar, sentir e tirar suas próprias conclusões, uma vez que não se tem fonte alguma para obter mais informações e dados históricos. O que posso afirmar é que uma vez lá você entra no clima daquela praia solitária tentando entender e saber um pouco mais sobre aqueles navios, as pessoas que estiveram embarcadas neles, enfim tudo que aqueles “grandalhões” já vivenciaram e guardam entre suas ferragens.
Para encerrar a “trip” com chave de ouro, claro que atolamos, Alex foi insistente e resolveu ir com o carro por cima de uma parte com areia que estava com grama e não era possível perceber o real estado dela. Resultado: carro atolado na areia. A nossa sorte é que estávamos com o fiel escudeiro, Zacarias, que ajudou o Alex na missão de desatolar. O Zacarias era motorista do Alex aqui em Luanda, hoje ele trabalha na área de TI na equipe de suporte, mas segue sempre muito fiel ao Alex (responsável pela promoção dele). Então sempre que vamos a um local desconhecido contamos com o Zaca na direção. Já fiz vários passeios com ele e sempre é bacana porque ele sabe muito da história do País, uma rica fonte de informação e cultura Angolana. Infelizmente sobre esse local ele não sabia muita coisa, foi a primeira visita dele ao cemitério dos navios.